Os gêmeos são uma das mais poderosas expressões destas indagações e sempre provocaram o assombro dos povos primitivos. Entre os índios da América do Sul, por exemplo, são muitas as histórias de gêmeos-heróis que dão origem ao Universo. Apesar disso, algumas tribos exigiam que o segundo gêmeo fosse morto ao nascer, assim, a alma não precisava se dividir entre os dois. O fenômeno dos gêmeos deu mesmo o que pensar aos nossos ancestrais... Que imagem melhor de nós mesmos partidos ao meio, cindidos entre nossos conflitos mais íntimos, indecisos entre o céu e o inferno?
O poder e o fascínio que os gêmeos exerciam sobre nossas bisavós nasciam não apenas da sua semelhança, mas das suas diferenças. Afinal, eu sou eu ou sou o outro? Dá para sentir que é no mínimo difícil estabelecer regras para compreender o relacionamento entre irmãos gêmeos. Os gêmeos já nascem sabendo que existe o ‘outro’, os ‘outros’. Já chegam imersos na dualidade de todas as coisas...
Independente dos aspectos pedagógicos que, com certeza, devem refletir essas peculiaridades, em um mundo de gêmeos encomendados e de clones, em tempos de mudanças de paradigmas e de vácuos enormes de valores compartilhados, vale à pena a gente parar cinco minutos para refletir sobre a nossa capacidade de conviver com diferenças e semelhanças.
Se o outro nos assusta ou nos ameaça talvez devamos buscar em nós as razões. Com certeza, vamos achar lá dentro o pingo escuro (ou claro) que reflete o outro.
Vamos encontrar humildade para equilibrar arrogância, vamos achar tolerância para compensar nossa ignorância, vamos exercitar a compaixão para neutralizar nosso medo.
Talvez seja essa nossa única chance de fazer as pazes com esse outro, esse duplo de nós que nos fascina e nos assusta, tão igual, tão diferente e quem sabe por aí, a gente possa preparar um mundo mais acolhedor para os bebês únicos, gêmeos, trigêmeos, múltiplos e multidão que estão chegando" Adília Belotti
(Foto ilustrativa dos irmãos Jim e John 1981).
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