"A cumplicidade entre gêmeos é um privilégio, mas pode distanciá-los do convívio social; cabe a pais e educadores incentivar o desenvolvimento autônomo, sem prejudicar a intensa ligação afetiva dessas crianças. O chamado 'efeito dupla' sempre interessou psicólogos, que reconhecem no vínculo de irmãos nascidos da mesma gestação uma relação diferente da existente entre não-gêmeos. O tipo de identificação que existe entre dois indivíduos que compartilharam simultaneamente o mesmo útero vai além das questões biológicas.
O convívio no ventre materno pode ter importantes implicações nessa fase, anterior ao nascimento. Embora se dediquem também ao estudo de casos de trigêmeos, de quadrigêmeos ou de quíntuplos, os especialistas mostram maior interesse pelas duplas, cujo vínculo afetivo, segundo eles, seria mais intenso. Um dos aspectos analisados nessas pesquisas são a afinidade e sincronia dessas relações. A psicóloga Piera Brustia, professora da Universidade de Turim, alerta para o fato de que a cumplicidade estabelecida entre os gêmeos pode tornar o relacionamento entre eles tão exclusivo a ponto de distanciá-los de outras crianças.
Nesses casos, o acompanhamento psicológico é fundamental para prevenir o isolamento, segundo a psicóloga. Numa dupla de gêmeos é comum haver o dominante e o passivo. O primeiro se responsabiliza pelo contato com as pessoas, enquanto o outro cuida da relação da dupla, mostrando-se mais tolerante e dependente da aprovação do outro. Essa diferenciação parece menor entre bivitelinos, capazes de construir vínculos mais equilibrados, menos hierárquicos. Alguns pesquisadores investigam se o contraste no comportamento de gêmeos idênticos poderia interferir na construção de relacionamentos afetivos.
As pesquisas de Brustia identificaram vários casos em que os gêmeos evitavam envolvimento afetivo, com receio de que uma nova união comprometesse o relacionamento com o irmão. Não é raro o casamento entre duplas de gêmeos. Uma maneira de buscar a própria identidade, mas sem se desligar da cumplicidade mais arcaica" (Fonte: Mente e Cérebro)
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