Ficávamos conversando baixinho para não levar bronca do meu pai e acabávamos dormindo na mesma cama - isso era um hábito. Estudamos juntas e sempre tivemos amigas e amigos gêmeos: como: (Grizieli e Daniele) (Osvaldo e Orlando) e (Leda e Amanda). Acredito sim, que há uma identificação entre os gêmeos. Tínhamos aqueles lances de saber o que a outra está pensando e sentindo só pelo olhar ou pelo tom da voz – tamanha era a nossa sintonia. Eu uso os verbos no passado, por que a Carla mora na Irlanda atualmente, então nossos momentos "Super-gêmeos" ocorrem eventualmente.
Sentimos muita falta uma da outra e mesmo com a distância nos cuidamos muito. O valor da minha conta de celular sempre vem acima do previsto, por que gasto enviando torpedos para ela. Temos nosso jeitinho de driblar a saudade e a distância, nos falamos uma vez por semana, e de vez em quando desembestamos a rir pelo skype mesmo. A Carla sempre demonstrou mais afeto do que eu. Ela era tão "intensa" que escolhia um dia da semana para demonstrar carinho ao extremo, ou seja, me beliscar, cutucar, pequenas torturas infantis.
Tem uma que vale a pena contar: um dia ela queria brincar comigo na rua e eu queria ir para casa. Naquela ocasião eu estava usando uma saia que fechava inteirinha com botões. Eu disse para ela que estava indo embora e ela me segurou pela saia e eu continuei a andar. Resultado: ela ficou com minha saia na mão e eu de calcinha na esquina da rua. Ela só aprontava comigo. Sempre gostei da companhia dela; ter alguém que me entende mais do que eu, é especial. Acho fabulosa a linguagem que somente os gêmeos tem, me sinto diferente por isso.
Por outro lado, odiava as comparações. A Carla sempre foi mais vaidosa: toda mudança que ela fazia na aparência, eu já era questionada. Porque eu não fazia o mesmo? Aos 13 anos eu reuni a família e pedi o "divórcio" dela. Lógico que tiraram sarro, mas ninguém entendia que eu queria apenas ser tratada como um indivíduo único. Apesar de distantes, nós mantemos alguns hábitos infantis quando estamos juntas. Somos exibidas, andamos de mãos dadas na rua. Também nos aconselhamos e nos apoiamos sempre. Isso é muito bom! Eu sou mais séria, tenho um senso de humor meio estranho, só gosto de piadas inteligentes. Não gosto de festerê, sou mais caseira, um pouco brava e mal humorada de manhã, acho que sou equilibrada.
A Carla é o oposto disso: gosta de aventura, gosta de bagunça, fala pra caramba, ri de tudo - (ela parece com meu pai nesse aspecto). Mas, ela tem certa sabedoria divina, percebe coisas que ninguém mais vê. É muito centrada com coisas sérias e tem facilidade para orientar as pessoas. E agora é mãe. Acho que isso potencializou algumas habilidades que nem mesmo ela sabia que tinha.
Ela é mais mulherão, eu sou mais moleca, meio ingênua, acredito nas pessoas facilmente. Ela é mais desconfiada e meio orgulhosa: a última palavra tem que ser dela e de preferência se impondo com uma boa esbarrada”
Luciana Teixeira Gomes é professora e gêmea de Carla Teixeira Falls. (scrap.lugomes@gmail.com)
São Paulo /SP
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