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terça-feira, abril 03, 2012

Claudia Pinheiro e "Mônica"


“No início eu era duas, eu tinha alguém, a “Mônica”, uma companhia, uma cúmplice, alguém em quem confiar, eu tinha alguém comigo, o que naquela altura me parecia tão evidente como eu própria estar ali. Ela era menor. Era uma outra pessoa, mas eu a confundia comigo mesma de tão próximas que estávamos.

Havia uma ligação profunda. Compartilhávamos tudo além da nossa mãe, os bons e os maus momentos. Tudo o que tínhamos era tão meu, quanto dela. Sentia-me confiante e absolutamente certa de que estávamos juntas desde o início e para sempre. Depois ela começou a distanciar-se.

No início não dei conta, estava tão bem, era tão feliz, tinha tudo que precisava. Vivia como se estivesse no paraíso. Tinha espaço para brincar, leveza e naturalidade. Brincávamos, descansávamos, tínhamos harmonia e prazer de viver. Às vezes sentíamos medo, mas como estávamos juntas, isso nos confortava. Eu sentia-me confortável e muito segura – e sei que ela sentia o mesmo.

Porém, minha irmã começou a ficar muito calada, muito quieta. Senti que ela estava triste, mas eu não sabia o motivo. Tentei aproximar-me, entender, ajudar, conversar...Mas, ela simplesmente foi desaparecendo, foi perdendo vida, foi desistindo. Era tão linda, tão minha, tão pequenina, e deixou-me ali sozinha… O que é que eu podia fazer? NADA. Fiquei aterrorizada!!!

Foi como se me tivessem cortado as pernas, como se me tivessem arrancado o coração… E agora, como vou conseguir viver? Com esta dor, com esta saudade? Como foi acontecer uma coisa destas? O que se passou? Ela parou simplesmente de se importar comigo. Abandonou-me sem piedade, sem se despedir, virou-me as costas… Ela não quis mais brincar comigo… Ou fui eu que fiz algo de errado?

Sentia uma vontade enorme de parar o tempo, de a obrigar a ficar comigo, senti uma enorme fúria, uma vontade de explodir: NÃO, NÃO NAAAAAAAÃO, EU NÃO QUERO FICAR AQUI SOZINHA… Eu podia ter feito qualquer coisa para inverter os acontecimentos, podia até ter ido com ela, mas essa opção, apesar de possível, não estava prevista, eu estava muito viva para querer morrer com ela.

Eu queria era que ela ficasse comigo e não havia nada a fazer, ela já estava longe. Então engoli a minha tristeza, fúria e desilusão e prometi a mim mesmo que não largaria a sua memória, nem por um minuto, para o resto da minha vida. Sentia-me traída. Era uma dor imensa misturada com uma fúria de amor e ódio. Foi a primeira e a maior desilusão da minha vida.

 Nós partilhávamos tudo e ela quebrou essa unidade, essa simbiose. Ela destruiu a solidez da nossa cumplicidade e abandonou-me. Fiquei com a sensação de que parte de mim estava feliz por ter sobrevivido, mas outra parte de mim estava fadada a ficar com a memória de Mônica. Este fardo compreende todos os sentimentos confusos que se relacionavam com ela: Amor imenso incondicional e altruísta.

Choque, confusão, incerteza de que rumo seguir sozinha, susto de morte, terror, raiva, fúria, solidão, resignação e culpa por estar viva. O mais difícil era que são sentimentos insondáveis, incompreensíveis, difícil de explicar. Este enorme ‘tsunami’ de emoções paralisava-me, pesava-me de tal modo que eu não podia ser leve, espontânea … feliz.

E quando chegou o momento de nascer foi tão difícil porque eu queria levá-la comigo. Decidi que viveria para sempre no perfume da sua memória. Antes de saber de toda minha história original eu sentia como se houvesse algo em mim estava errado. Mas depois que descobri (através do meu processo terapêutico) que sou gêmea sobrevivente, tudo na minha vida começou a fazer mais sentido.

Afinal, eu não fui gerada sozinha, tive uma irmã gêmea idêntica que “desapareceu” no primeiro trimestre da gestação! Sempre a procurei sem saber e, na realidade, ainda hoje a procuro, sabendo que é impossível vivenciar com outra pessoa a relação que tive com ela. Mas é essa a minha realidade e é com ela que devo viver”

Claudia Pinheiro (Gêmea Sobrevivente) é Terapeuta de Intervenção Psico-Corporal em Crise com Grávidas e Bebês.

www.gemeo-singular.blogspot.com

Aveiro / Portugal

Um comentário:

  1. Lindo...Perfeito Claudia,sua palavras tocaram fundo dentro de mim...tive gemeos...dois meninos e um morreu 6 dias depois de nascido não tem sido facil e me preparo rpa um dia dar o suporte ao meu filho se ele senti esse vazio.Hoje tenho um Uma revista eletronica que visa dar suporte e recuperar ao auto estima das mães que eprderam filhos.Tambem estamos no facebook.
    www.mulheresferidasquevoam.com

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