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segunda-feira, novembro 26, 2012

"Israelenses e Palestinos" Por Daniela Kresch

As consequências da guerra em crianças palestinas e israelenses

CIDADE DE GAZA - Segundo dados do Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR, na sigla em inglês), 33 crianças morreram e 247 foram feridas na Faixa de Gaza nos oito dias do conflito entre Israel e o Hamas. O médico Zohear Algaro, responsável pelo serviço de pediatria do Hospital Shefa, na Cidade de Gaza, diz ter perdido as contas do nº de crianças atendidas e definidas por ele em 4 tipos:

"Há crianças que chegam aqui quase mortas. Outras apresentam queimaduras extremamente graves. Há aquelas que não têm praticamente nenhum ferimento. E, por último, há as que estão em estado de choque" disse Zohear. Segundo ele, a maioria das crianças que sofreram algum tipo de violência tem dificuldade em lembrar o que aconteceu. O governo de Gaza não possui nenhum serviço especial para o acompanhamento das crianças afetadas pela guerra, que contam apenas com a ajuda internacional.

Os efeitos psicológicos da guerra para as crianças são devastadores, diz Zohear, passando do trauma a manifestações como a incontinência urinária. O filho de um colega seu já não vai mais ao banheiro sozinho - agora sempre pede a companhia do pai. "Elas se jogam nos braços do pai ou da mãe. E as famílias precisam ser fortes, conversar com seus filhos, responder as suas perguntas e procurar apaziguá-las. Mas com os mísseis caindo o tempo todo, é bastante difícil".

Dr Zohear tem trigêmeas, de 7 anos, e um menino, de 5, e confessa nunca ter imaginado ver seus filhos com tanto medo como hoje. "Eles ouvem um som de um brinquedo e se assustam. Se apavoram quando a terra treme. Na guerra de 2008-2009, caças israelenses F-16 emitiam nos céus o som similar ao de uma explosão. Era um tipo de ataque psicológico, e as crianças ficavam aterrorizadas. Desta vez foi a mesma coisa, mas com mísseis reais, com vítimas, e não apenas os estrondos".

Segundo o Centro Israelense para Vítimas do Terrorismo e da Guerra, nada menos do que 75% das crianças e adolescentes entre as idades de 4 e 18 anos da cidade de Sderot, que se tornou símbolo dos ataques, sofrem com algum sintoma da síndrome de estresse pós-traumático. Cerca de 50% delas revivem constantemente os momentos de tensão. Segundo os especialistas, os números espelham a realidade em outras cidades do Sul de Israel.

Desde 2001, mais de 11 mil projéteis lançados da Faixa de Gaza caíram em todo o Sul de Israel, sem contar os 1.550 deslanchados pelos grupos islâmicos no recente conflito. Segundo a psiquiatra israelense Adriana Katz, diretora do Centro Regional de Saúde Mental de Sderot, a tensão constante provocada pelo soar da sirene, apelidada de "cor vermelha", que avisa da iminência de uma queda de foguete, leva as crianças a desenvolverem reações como regressões na escola e no comportamento em casa, dependência dos pais, insônia, incontinência urinária e agressividade, entre outras.

Foi o que aconteceu com os filhos de Shiran e Kobi Maimon, casal afetado por um míssil que destruiu parte de um prédio em Rishon LeTzion. A família, incluindo meninas gêmeas de 4 anos e um bebê de 2, conseguiu entrar no quarto reforçado com paredes de aço poucos segundos antes do impacto.

"As gêmeas não têm se comportado normalmente. Elas estão com muita raiva, mais violentas, atacando tudo e todos. O menino de 2 anos, toda vez que escuta um barulho, mesmo que seja da máquina de lavar, começa a berrar com histeria" conta Shiran. Segundo Adriana Katz, o futuro dessas crianças é uma incógnita. Essa geração, que já nasceu sob o signo das bombas, pode desenvolver uma personalidade mórbida. “Essas crianças não brincam nas ruas, nos parques. Não sabem o que é andar de bicicleta a céu aberto - afirma Adriana.

Um dos piores fatores para o trauma infantil causado pelas bombas e as sirenes é o fato de ele ser constante há mais de uma década. Segundo Tzvi Faierman, diretor do Centro dos Serviços Psicológicos da Faculdade Sapir, a 2 km da fronteira com Gaza, tratar uma criança com sintomas de estresse pós-traumático é um trabalho sem fim. "É um trauma é acumulativo, contínuo. Não há cura, e sim tratamento constante e acompanhamento".

Por Daniela Kresch / Agência O Globo / Imagem Ilustrativa

Daniela Kresch Shahar nasceu em 10 de dezembro de 1968, no Rio de Janeiro (RJ). 

Graduou-se em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em 1990. 

É mestra em Relações Internacionais pela George Washington University (EUA), em 2000.

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