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sexta-feira, fevereiro 01, 2013

"Desnutrição e a mortalidade infantil" Por Marcelo Ulhoa

Bactérias que vivem no intestino favorecem a desnutrição

A desnutrição é a principal causa de mortalidade infantil em todo o mundo. De acordo com a organização Médicos sem Fronteiras, nove crianças morrem a cada minuto pela falta de nutrientes básicos. O problema tem um forte vínculo socioeconômico: onde há pobreza, desigualdade social e falhas no saneamento básico, a deficiência alimentar aparece estampada nos rostos e nos corpos ainda em crescimento. Apesar de todo o avanço alcançado nos últimos anos, para algumas crianças desnutridas, aumentar a ingestão de calorias, ainda que essencial, não é suficiente para torná-las mais saudáveis.

A partir de um estudo conduzido com mais de 300 pares de gêmeos no Malawi, um dos países da África com maior taxa de desnutrição, pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, descobriram que algumas bactérias que vivem no intestino podem ajudar na instalação de um quadro de desnutrição infantil grave, chamada kwashiorkor.

Publicada na revista Science, a pesquisa mostra como alterações nas comunidades de micróbios presentes no intestino combinadas a uma dieta pobre em nutrientes conspiram para provocar a desnutrição aguda nos primeiros anos de vida. Autor principal do estudo, o médico Jeffrey Gordon afirma que o interesse pela linha de pesquisa surgiu baseado em resultados anteriores que revelaram uma ligação entre a flora intestinal e a obesidade. “Questionei se o inverso poderia ser também verdadeiro, ou seja, se a disfunção da microbiota do intestino é uma causa subjacente de desnutrição”, explica.

A partir de uma análise detalhada da flora intestinal de todos os pares de gêmeos durante os três primeiros anos de vida, os pesquisadores perceberam uma diferença expressiva entre o perfil de micróbios encontrados em crianças saudáveis e naquelas altamente subnutridas. O fato poderia explicar porque, sob as mesmas condições ambientais e nutricionais, um irmão se torna desnutrido enquanto o seu gêmeo permanece saudável. A resposta estaria, então, em um padrão diferente da microbiota de cada pessoa.

Para sustentar a análise feita em humanos, os pesquisadores realizaram estudos adicionais com camundongos de laboratório. Ao transportar para os ratos o conjunto de micróbios presentes em crianças com kwashiorkor, os roedores iniciaram uma perda dramática de peso e alterações metabólicas. A deficiência, entretanto, aparecia somente quando eram também alimentados com uma dieta pobre em nutrientes.

De acordo com Alexandre Nikolay, coordenador do serviço de pediatria do Hospital Santa Lúcia, é importante ressaltar que as bactérias, por si só, não causam desnutrição. “Não existe desnutrição aguda onde há alimento. Você não desenvolve a deficiência só porque pegou um tipo específico de bactéria. É preciso que haja também uma alimentação pobre”, pondera o médico.

Ainda que não seja suficiente para causar o problema, a flora intestinal desempenha um papel complementar na desnutrição. Ao alimentar os gêmeos e os camundongos infectados com uma dieta com alto teor calórico e rica em nutrientes, os pesquisadores observaram um efeito benéfico, porém temporário e insuficiente para reparar a disfunção.

O tratamento nutricional baseou-se na entrega de alimentos derivados do amendoim, como pastas e óleos, seguindo o protocolo da Organização Mundial da Saúde que defende a utilização de alimentos terapêuticos prontos para o uso. Enquanto a dieta especial era administrada, a microbiota de crianças e ratos desnutridos foi ficando cada vez mais parecida com a de organismos saudáveis e bem alimentados. Além disso, os indivíduos ganharam peso e as alterações clínicas ligadas, por exemplo, ao fígado e à pele melhoraram.

Entretanto, quando voltaram a ingerir somente a comida disponível na comunidade, a combinação de micróbios voltou ao estágio inicial presente no quadro de desnutrição. “Nossos resultados sugerem que precisamos elaborar novas estratégias de reparação da flora intestinal para que essas crianças possam experimentar um crescimento saudável e atingir o seu pleno potencial”, defende Gordon. Por Marcelo Ulhoa / Estado de Minas / Foto Ilustrativa

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