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segunda-feira, março 11, 2013

Mulher supera deficiência visual e cria gêmeos com cegueira no ES

(Todos os dias, Adrielle precisa subir um morro e uma escadaria 
para chegar em casa, em Vitória, ES)

Com cegueira, Adrielle cuida sozinha, de um filho surdo e de gêmeos que também nasceram com deficiência visual.

A deficiência visual não impede que a capixaba Adrielle Helmer de Souza leve uma vida independente. Muito pelo contrário, a própria vida a tornou uma mulher que outras pessoas passaram a depender. Aos 21 anos, ela é mãe de um menino (Matheus) de quatro anos, deficiente auditivo, e de dois bebês gêmeos, de 11 meses, que também nasceram com deficiência visual.

Morando no alto do bairro Jesus de Nazaré, em Vitória (Espírito Santo) sobe e desce o morro com os dois filhos mais novos no colo todos os dias. No Dia Internacional da Mulher, o G1 foi conhecer as dificuldades e vitórias diárias dessa capixaba.

Adrielle nasceu enxergando apenas vultos, mas aos oito anos teve a oportunidade de fazer uma cirurgia. Hoje, ela consegue enxergar 20% em um dos olhos. "Nasci com catarata congênita, que é genética. Meus bebês também nasceram assim e eles enxergam parcialmente, só não sei falar quanto porque são muito novinhos. Ano que vem eles vão operar, colocar lentes, e vão conseguir ver melhor do que eu vejo. Já meu filho mais velho pegou meningite no hospital, depois que nasceu, e acabou perdendo a audição", explicou a mãe.

Adrielle acorda às 5h para dar tempo de arrumar os três filhos para a escola. Os mais novos ficam na creche do bairro e o mais velho vai para uma escola bilingue, com educação especial para deficientes auditivos, no bairro Ilha do Príncipe. "Preciso encarar o ônibus todos os dias. Muitas vezes é difícil enxergar o nome no ônibus, mas sempre tem alguém no ponto que me ajuda. Depois de deixar o Matheus na escola, vou para o Instituto Braille para tomar café da manhã, que é oferecido de graça" relatou.

Entre os afazeres da tarde estão levar os filhos para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e também para o Hospital das Clínicas, todas as terças e quintas-feiras. Já no fim de semana, prefere ficar em casa, pela dificuldade de descer e subir o morro e uma escadaria com as crianças. "Eu até tenho um carrinho de gêmeos, que ganhei, mas o morro é muito empinado e não tenho força para controlá-lo na descida. Outro problema é que não tenho dinheiro para fazer as vontades dos meus filhos, então prefiro ficar em casa a vê-los me pedindo as coisas que não posso dar", explicou.

Na adolescência, a capixaba não conseguiu concluir os estudos por conta das dificuldades da época. Já mais velha, ela conseguiu retornar para o ensino médio em uma escola do bairro que oferece supletivo, que inclusive aplica provas com as letras aumentadas, para pessoas como Adrielle. Em casa, ela consegue tempo para estudar apenas à noite, lendo as apostilas com uma lente de aumento.

O dia dela só termina por volta de meia-noite. "Quero terminar os estudos e começar a trabalhar. Meu sonho é ser jornalista. Assim que conseguir um emprego, vou juntar dinheiro para comprar uma casa na parte de baixo do meu bairro, pois não aguento mais subir morros", falou.

Além disso, ela também precisou aprender o básico da comunicação em libras, para poder se comunicar com o filho mais velho. Agora, o próximo plano de Adrielle é começar aulas de braille no mês de abril, oferecidas gratuitamente no Instituto Luiz Braille. Apesar de conseguir ler as letras expandidas, esse outro tipo de leitura é sinônimo de menos esforço visual para a dona de casa.

Apesar das dificuldades para conseguir um emprego, que incluem cuidar dos filhos e a própria deficiência, Adrielle não pode fugir das atividades em casa. Ela mora com o irmão, mas alega que ele não a ajuda. "Meu irmão não trabalha, tudo sou eu que faço, eu sustento a casa. Todo mês recebo um salário mínimo por causa do Matheus e R$ 200 do pai dos meus gêmeos, isso é tudo”, contou.

A residência que mora foi deixada de herança pelo pai, falecido em 2011, para os três filhos, mas a irmã de Adrielle não vive no local. A capixaba contou que o pai era seu braço direito e maior incentivador. "Nunca tive exemplo de mãe, ela nos abandonou quando eu era criança, portanto meu pai era tudo para mim. Sempre tivemos tudo com muita dificuldade, como é hoje. Estou sempre precisando de doações de roupas e fraldas", disse.

Os cuidados com as crianças, desde o banho até a preparação das refeições, são de responsabilidade da mãe. "As pessoas sempre me param para falar que sou irresponsável, que fico andando para cima e para baixo com meus filhos sem conseguir ver direito o que está na minha frente. Mas o que eu posso fazer? Ficar parada em casa enquanto a vida passa? Não posso, não tem outro jeito. Tem horas que penso em chutar tudo para o alto, mas então olho para os meus filhos e penso 'eles precisam de mim'", explicou. Por Juliana Borges / G1

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