Stephanie Bleÿs, brasileira, gêmea e adotada

Adotada por holandeses, brasileira do hóquei sobre grama sonha com 2016.

Filha de uma ex-jogadora da seleção holandesa, Stephanie Bleÿs reencontra as suas raízes na disputa da Liga Mundial, em Deodoro, no Rio de Janeiro.

A vida de Stephanie Bleÿs poderia ter tomado um rumo totalmente diferente se um casal de holandeses não tivesse cruzado o seu caminho. Quando tinha apenas duas semanas de vida, foi adotada junto com a sua irmã gêmea por um empresário e uma ex-jogadora da seleção holandesa de hóquei sobre grama, que não poderia ter filhos. 

Viveu em países como Irlanda, Vietnã, Singapura e Bélgica até se mudar de vez para a Holanda. Os primeiros passos no esporte foram no futebol, mas, por influência da mãe, resolveu trocar as chuteiras pelos tacos.

Hoje, a jovem de 18 anos é um dos destaques da seleção brasileira que disputa a primeira edição da Liga Mundial como parte da preparação para os Jogos do Rio, em 2016. Na pequena cidade de Rosmalen, na Holanda, onde vive com a família, ela se divide entre os treinos pelo clube Oss e um consultório de odontologia, onde trabalha como assistente.

“Sempre fui apaixonada por futebol. Eu pensava até em virar jogadora, mas minha mãe me levou para o hóquei e eu nunca mais saí. Sou assistente de dentista e jogadora de hóquei sobre grama. É difícil de conciliar, ainda mais com a escola, mas quero me dedicar ao esporte até 2016. Meu sonho é participar das Olimpíadas e eu vou me dedicar muito para ser convocada. Depois, quero me formar em odontologia e ser dentista” disse Stephanie.

Além do futebol, ela adora samba, mas ainda não teve a oportunidade de aprender a dançar o ritmo tipicamente brasileiro. No ano que vem, quem sabe, ela pensa até em assistir a um desfile na Sapucaí e curtir um bloco de carnaval de rua no Rio. Feliz na terra em que nasceu a paulista de Campinas conta que ainda não aprendeu o idioma e planeja conhecer um pouco mais sobre a cultura do país.

“Quero poder passar algumas semanas no Brasil e reencontrar as minhas raízes. Ainda não sei muito bem quem eu sou, de onde eu realmente sinto que eu venho, por isso, tenho vontade de aprender mais sobre a cultura do lugar em que nasci. Gosto de tudo aqui, da música, do futebol, das pessoas... Não sei falar uma palavra em português, cresci numa realidade totalmente diferente, mas a minha aparência física é de brasileira, não pareço holandesa”

A mãe coruja, Dwub Bleÿs, (foto ao lado) apoia a decisão da filha e torce pela evolução do esporte que, segundo historiadores, foi trazido ao país por Charles Müller, o "pai" do futebol.

“Defendi a seleção holandesa por três anos e foi uma experiência maravilhosa. O esporte enobrece o ser humano. É uma pena a falta de estrutura do hóquei sobre grama no Brasil. Acho que seria interessante se as seleções brasileiras pudessem fazer um intercâmbio na Holanda, onde o esporte é muito popular e praticado em alto nível” disse Dwub.

O hóquei sobre grama chegou ao Brasil em 1880, por meio de imigrantes ingleses e alemães, que levaram o esporte para as suas colônias. O primeiro clube a surgir no país foi o paulista “Skating Palace” e, em 1915, os cariocas ganham a sua primeira equipe, o Leme Hockey Club, que durou apenas 4 anos.

Em 1998, a primeira seleção brasileira participou de uma competição oficial de hóquei na grama, o Sul-Americano, disputado no Chile. O ano de 2007 foi um divisor de águas para o esporte, que passou a contar com primeiro campo oficial do país, construído para os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, no complexo esportivo de Deodoro, onde está senda realizada a Liga Mundial.

(Seleção brasileira e Estados Unidos disputam a bola 
no hóquei sobre grama. Foto: Caio Ely / CBHG)

A seleção brasileira feminina perdeu para os Estados Unidos por 6 a 0 na estreia do torneio. Nesta quarta-feira (06/03), o time canarinho volta a campo para encarar a Escócia, às 15h30m. As equipes se enfrentam em turno único e as duas primeiras colocadas de cada chave avançam à próxima fase.

Por Ana Carolina Fontes / Globo Esporte