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sexta-feira, maio 31, 2013

Hermafroditas: Documentário "Menino e Menina?"

David 'Bruce' Reimer
Os gêmeos Brian e Bruce, que foi criado como menina
"Menino e menina?" mostra histórias de crianças nascidas hermafroditas.

Nesta quinta-feira (30), o "GNT.Doc" exibiu o documentário "Menino e menina?", que acompanha a história de pais que tem que definir o sexo dos seus filhos, nascidos hermafroditas, antes mesmo que eles possam se decidir. Muitas vezes, os pais são pressionados por especialistas para tomarem uma decisão.

Um dos casos foi de (David Reimer), um menino canadense nascido em 22 de agosto de 1965, criado como menina após perder o pênis em um acidente durante um procedimento de circuncisão. (David se matou em 4 de maio de 2004). Os gêmeos Bruce e Brian Reimer nasceram perfeitos, mas após 7 meses, começaram a apresentar dificuldades para urinar. Com orientação médica, os pais, Janet e Ron levaram os dois a um hospital para serem circuncidados.

Na manhã seguinte, eles receberam uma ligação devastadora – Bruce tinha perdido o pênis. Os médicos usaram uma agulha cauterizadora em vez de um bisturi. O equipamento elétrico apresentou problemas, e a elevação súbita da corrente elétrica queimou completamente o pênis de Bruce. A operação de Brian foi cancelada, e o casal levou os gêmeos de volta para casa.

Psicólogo - Vários meses se passaram, e eles não tinham ideia do que fazer até que um dia encontraram um homem que mudaria suas vidas e as vidas de seus filhos para sempre. John Money era um psicólogo especializado em mudança de sexo. Ele acreditava que não era tanto a biologia que determinava se somos homens ou mulheres, mas a maneira como somos criados.

Janet com os filhos gêmeos
"Estávamos assistindo a TV. O doutor Money estava lá, muito carismático, e parecia muito inteligente e muito confiante no que estava falando" lembra Janet – que escreveu para Money, e poucas semanas depois ela levou Bruce para vê-lo em Baltimore, nos Estados Unidos. Para o psicólogo, o caso representava uma experiência ideal. Ali estava uma criança a qual ele acreditava que poderia ser criada como sendo do sexo oposto e que trazia até mesmo seu grupo de controle com ele – um gêmeo idêntico.

Se funcionasse, a experiência daria uma evidência irrefutável de que a criação pode se sobrepor à biologia, e Money genuinamente acreditava que Bruce tinha uma chance melhor de levar uma vida feliz como mulher do que como um homem sem pênis. Então, quando Bruce tinha 17 meses de idade, se transformou em Brenda. Quatro meses depois, no dia 3 de julho de 1967, o primeiro passo cirúrgico para a mudança foi tomado, com a castração.

Segredo - Money enfatizou que, se quisessem garantir que a mudança de sexo funcionasse, os pais nunca deveriam contar a Brenda ou ao seu irmão gêmeo que ela havia nascido como menino. A partir de então, eles passaram a ter uma filha, e todos os anos eles visitavam Money para acompanhar o progresso dos gêmeos, no que se tornou conhecido como o “caso John/Joan”. A identidade de Brenda foi mantida em segredo. "A mãe afirmou que sua filha era muito mais arrumada do que seu irmão e, em contraste com ele, não gostava de ficar suja", registrou Money em uma das primeiras consultas.

Mas em contraste, ele também observou: "A menina tinha muitos traços de menina moleque, como uma energia física abundante, um alto nível de atividade, teimosia e era frequentemente a figura dominante num grupo de meninas". Em 1975, as crianças tinham 9 anos, e Money publicou um artigo detalhando suas observações. A experiência, segundo ele, tinha sido um sucesso total. "Ninguém mais sabe que ela é a criança cujo caso eles leram nos noticiários na época do acidente. O comportamento dela é tão normalmente o de uma garotinha ativa e tão claramente diferente, por comparação, do comportamento de menino de seu irmão gêmeo, que não dá margem para as conjecturas de outros." afirmou.

Suicídio - No entanto, na época em que Brenda chegou à puberdade, aos 13 anos, ela sentia impulsos suicidas. "Eu podia ver que Brenda não era feliz como menina", lembrou Janet. "Ela era muito rebelde. Ela era muito masculina e eu não conseguia convencê-la a fazer nada feminino. Brenda quase não tinha amigos enquanto crescia. Todos a ridicularizavam, a chamavam de mulher das cavernas. Ela era uma garota muito solitária." Ao observar a tristeza da filha, os pais de Brenda pararam com as consultas com John Money. Logo depois, eles fizeram algo que Money tinha pedido para que não fizessem: contaram a ela que Brenda tinha nascido como um menino.

Semanas depois, Brenda escolheu se transformar em David. Ele passou por uma cirurgia de reconstrução do pênis e até se casou. Ele não podia ter filhos, mas adorou ser o padrasto dos três filhos de sua esposa. Mas, o que David não sabia, era que seu caso tinha sido imortalizado como "John/Joan", em artigos médicos e acadêmicos a respeito de mudança de sexo e que o "sucesso" da teoria de Money estava afetando outros pacientes com problemas semelhantes aos deles.

"Ele não tinha como saber que seu caso estava estabelecendo os protocolos sobre como tratar hermafroditas e pessoas que tinham perdido o pênis - em vários livros de teoria médica", disse John Colapinto, um jornalista do The New York Times, que descobriu a história de David. "Ele mal conseguia acreditar que (sua história) estava sendo divulgada por aí como um caso bem sucedido e que estava afetando outras pessoas como ele."

Depressão - Quando passou dos 30 anos, David entrou em depressão. Ele perdeu o emprego e se separou da esposa. Em 2002 seu irmão gêmeo morreu devido a uma overdose de drogas. Em 2004, no dia 4 de maio, os pais receberam uma visita da polícia que os informou que seu filho tinha cometido suicídio (aos 38 anos). "Eles pediram que nos sentássemos e falaram que tinham notícias ruins, que David estava morto. Eu apenas chorei", conta Janet.

Casos como esse, são muito raros. Mas decisões ainda estão sendo tomadas sobre como criar uma criança, como menino ou menina, se ela sofre do que atualmente é conhecido como Distúrbio do Desenvolvimento Sexual. "Agora temos equipes multidisciplinares, que funcionam bem, em todo o país, então a decisão será tomada por uma ampla série de profissionais", explicou Polly Carmichael, do Hospital Great Ormond Street, de Londres.

"Os pais ficarão muito mais envolvidos em termos do processo da tomada de decisão", acrescentou. Polly afirma que, segundo sua experiência, estas decisões tem sido mais bem sucedidas para ajudar as crianças a levar uma vida feliz quando crescerem. "Fico constantemente surpresa como, com apoio, estas crianças são capazes de enfrentar e lidar com o problema". (BBC Brasil)

Um comentário:

  1. Fico feliz por saber que há profissionais se preocupando com pessoas que que tem esse tipo de problema.

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