Gravidez de crianças gêmeas, de forma natural, tem menos de 1% de chance de acontecer, segundo a medicina. Mas esta baixa probabilidade não se reflete no caso da Patrícia Coutinho, de 40 anos. Ela está na terceira gestação de gêmeos, à espera de Álvaro e Alberto, e antes já havia tido seis filhos. Morando em uma casa simples no bairro Ulisses Guimarães, em Vila Velha, no Espírito Santo, ela é o que pode ser chamado de mãezona, tanto pelo apego aos filhos, quanto pela quantidade deles: onze, sem contar uma menina que morreu. No Dia das Mães, o presente que Patrícia mais deseja é sentir o amor dos filhos cada vez mais perto.
Clara e Clarisse nasceram na segunda gravidez de gêmeos |
Apesar das dificuldades, as experiências vividas na infância não deixaram que Patrícia abandonasse os filhos. Na primeira gestação veio Thamires. Aos 17 anos, ela engravidou de Tayres e aos 19 de Thayslainy. As três já estão casadas e morando em suas próprias residências. Depois chegaram Thacyellen, Thiago e Vitória. A primeira gravidez de gêmeos, há seis anos, foi uma surpresa. "Sabia que tinha um caso na família, mas não achei que aconteceria comigo um dia. Quando a Jamilly e Djuly nasceram foi uma alegria, mas a Djuly acabou engolindo líquido amniótico no parto e morreu. Clara e Clarisse vieram no ano seguinte, o que foi mais uma surpresa para mim. Já o pai do Álvaro e do Alberto havia me falado que era estéril, mas acabei engravidando de gêmeos dele também", contou a mãe.
A ginecologista Neide Tozatto explicou que quando uma mulher tem a primeira gravidez de gêmeos, há chances de ocorrerem outras gestações múltiplas. "De forma natural, a probabilidade de uma mulher ter filhos gêmeos é de 0.9%, ou seja, uma a cada 100 pode ter. Na maioria dos casos não são gêmeos idênticos, pois ocorre uma ovulação múltipla. Além das chances pela genética, há a gravidez por acaso e a fertilização in vitro", disse.
Dia das Mães - Patrícia falou sobre seu jeito espontâneo de agir e que algumas atitudes, às vezes, incomodam os filhos mais velhos. Para esse Dia das Mães, ela confessou que não espera presentes, mas a compreensão deles. "É dessa maneira que sinto o amor deles mais perto. Quando ouço críticas dos meus próprios filhos, até por conta dessa última gravidez, eu fico triste, mas sei que no final mãe é mãe. Quero que eles tenham tudo que eu não pude ter e dar, e é por isso que incentivo os estudos", falou. Outro desejo é pelo bom parto e a saúde dos que estão para chegar.
Dificuldades - Hoje, morando com cinco filhos e grávida, Patrícia contou sobre a criação das crianças, que na maior parte das vezes não contou com o apoio dos pais. "Eles só registravam, mas não ajudavam. Apenas um me ajuda, o resto teve que ser comigo mesmo, me virando para não deixar faltar o básico para eles. Tenho meus defeitos, mas dou o máximo de mim pelos meus filhos", disse. Ela trabalhava como doméstica, mas com a chegada das quatro primeiras crianças precisou largar o emprego por não ter com quem deixá-las. A partir desse ponto as dificuldades, que já existiam, começaram a aumentar. É o pai de Thacyellen, Thiago e Vitória o único a dar pensão, de R$ 600 por mês mais ajuda em alimentos. "Vivi com ele por 15 anos, que foi quem me ajudou a construir a minha casa, graças a Deus não preciso gastar com aluguel por causa disso. Nosso relacionamento não deu certo, mas a gente se dá bem até hoje", falou. O dinheiro da pensão é acrescido por R$ 270 que recebe do Bolsa Família e Projeto Incluir,do governo federal. Mesmo com a baixa renda, ela disse que nunca deixou os filhos passarem fome. "Fazia mingau ralo, mas não deixava que dormissem sem comer. Quando não tinha nada em casa, contava com a ajuda dos poucos amigos para fazer uma refeição ou conseguir algum alimento."
Álvaro e Alberto - Com o parto marcado para o dia 16 de maio, no sétimo mês de gestação, Patrícia Coutinho contou que a primeira ideia que teve foi de aborto, por conta das dificuldades. Um médico foi quem mudou os pensamentos dela. "Quando soube que estava grávida, e eram gêmeos de novo, entrei em desespero. Chorei muito e contei para a minha família. Foi um médico quem me convenceu a não abortar, me falou boas palavras, de consolo. Ele disse que 'Deus dá o frio conforme o cobertor', mas nesse caso nem cobertor eu tinha. Mesmo assim entendi a mensagem, e se um já seria difícil tirar, imagine dois, não consegui", contou. O pai dos meninos havia alegado ser estéril, mas ela acabou engravidando e agora ele não quer assumir a paternidade. A dona de casa contou que vai fazer o teste de DNA para comprovar a consanguinidade entre o ex-namorado e os filhos. "Foi um relacionamento rápido que tive. Se ele não assumir, vou entrar na Justiça, mas espero que quando ele veja a carinha dos nenéns ele mude de ideia", falou esperançosa.
Patrícia explicou que sua gravidez é de risco por quatro fatores: ela é obesa, hipertensa, está com 40 anos e pela própria gestação múltipla, que já é considerada de risco por si só. Ela disse que quer fazer a cirurgia de ligação de trompas e que só não conseguiu realizar antes por conta da pressão alta, mas desta vez vai solicitar a operação logo após o parto. As vésperas do parto, as lembranças da surpresa e do desespero ao descobrir mais uma gravidez agora parecem pequenas, para a quantidade de preparativos para a chegada dos bebês. Como sua última gravidez de menino ocorreu há 15 anos, ela não tinha roupas para Álvaro e Alberto, tudo foi conseguido através de doações. "Ganhei fraldas, roupinhas e carrinho de gêmeos, que nunca tive. Também consegui um berço novo, mas ainda estou precisando de cueiros para sair do hospital", disse. Por Juliana Borges / G1
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