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sexta-feira, junho 11, 2010

"João, Clara e Caio" Por Eros de Almeida

"Jemima, embora estivesse lhe prometendo um relato há tempos, hesitava na hora do ‘vamo vê’. Isso porque não sabia sobre o que escrever. Quando publiquei o livro há oito anos, o encantamento com a paternidade, evidentemente, era maior – afinal, só tinha novidade.

Hoje, os trigêmeos tem doze anos e estão a caminho célere da adolescência – na verdade, com tantos estímulos (internet, celular e esta gama de penduricalhos tecnológicos), acho que são adolescentes há tempos. São três indivíduos completamente diferentes entre si. Com vontade própria – e põe própria nisso – e capazes de enumerar desaforos de tirar um monge tibetano do sério, imagine a mim e a Claudia. 

Mas apesar dos pesares – era ótimo quando podíamos botá-los de bruços para tomar sol de manhã cedo, no quarto dos fundos do apartamento do Leme – dá uma sensação de felicidade vê-los crescendo saudáveis, fortes, capazes.

Parafraseando Nando Reis, “é bom olhar para trás e não se arrepender”. É claro que dá um banzo danado quando vejo fotos daqueles molequinhos impotentes, precisando de mãos ou colo para qualquer coisa.

Antes, era muito mais fácil, apesar de milhares de fraldas sujas, daqueles repelentes cocos que entorpeciam quem tentasse livrá-los daquele odor típico de refeição de abutre. Naqueles dias eles dependiam de nós para tudo.

Agora, dependem cada vez menos e somos (eu, Claudia, a nossa geração) dispensáveis, pois guardamos o pomo do conservadorismo. Sabe aquela parada de guerra geracional? Pois é...A geração deles já nasceu com um chip na cabeça. E isso aumenta a distância entre nós.

Mas independentemente de tudo, é uma grande, inominável benção ser pai – embora seja, atualmente, muito mais espectador do que participante do processo de criação deles - de Caio, Clara e João. 

[Minha ausência é justificada porque eu tenho uma meleca de doença, pouco conhecida, chamada Machado Joseph, uma (ataxia spino-cerebelar) um mal que ataca o cerebelo e consequentemente vai minando todos os movimentos. Acho que a ideia maligna desta doença é isolar o doente do mundo, uma vez que ataca a voz, os movimentos finos das mãos, o caminhar, o olhar, a respiração].

Mas eu insisto e não reclamo. E assisto a Claudia, minha mulher, rugir e embalar o sono e os sonhos dos três. Lamentavelmente sou apenas uma testemunha da coragem e determinação dela, que se locupleta para atender os mais diferentes pleitos de todos os três, ou melhor, os cinco, incluídos aí eu e Capuccino, um pug de três anos. Se consigo driblar meu isolamento social, o mérito é de João, Clara, Caio, e principalmente, da mãe deles. A Claudia é a essência da família”.


Eros Ramos de Almeida, é o autor do livro MELHOR DE 3. Um livro imperdível!



Rio de Janeiro / RJ

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