Modelos gêmeas contam como é serem negras e morarem na capital do país:
Karen: "Nossa mãe é professora, ela mora em Brasília há mais de 20 anos. Não sabemos muito do nosso pai, ele é um pai ausente, mas para a gente isso é insignificante. Na escola, um dos nossos apelidos era ‘Chica da Silva’. Eu me achava bonita, mas não gostava da cor da pele, do cabelo e da altura, me achava muito alta. Hoje me acho a mulher mais bonita do mundo.
Depois, se a gente não se achar, quem é que vai? Na escola, quando alguém nos hostilizava com apelidos depreciativos, nós reagíamos e íamos à diretoria. A gente não levava desaforo pra casa. Revidava de todo jeito, só que era pior. Minha mãe botou na minha cabeça que era pra eu ser médica, mas quero fazer direito, porque sei que carreira de modelo não é para sempre. Meus amigos falam que as cotas para a universidade são desnecessárias, porque é uma forma de racismo. Pode até ser pra eles, mas só quem é negro sabe o que sofre…"
Karina: "Não gostava dos apelidos que nos davam e parecia que quanto mais a gente reclamava, mais eles falavam. Depois que a gente foi crescendo, foi levando mais na brincadeira. Mas nunca dei liberdade pra ninguém me apelidar disso ou daquilo, porque acho isso uma falta de respeito. Eu não gostava nem da minha pele nem do meu cabelo. A gente sempre fez escova. Começamos a fazer alisamento com cinco anos.
O bom de a gente começar a ser modelo é que aumentou nossa autoestima, passamos a nos aceitar mais. Sempre digo pra todo mundo que a Karen é a única pessoa no mundo que, se alguém estiver brigando com ela, eu entro no meio pra defendê-la. Não faço isso por mais ninguém, porque eu não gosto de briga. Mas, pela Karen, vou até o fim. Também quero fazer direito, mas com o intuito de ser juíza. O Brasil é um país diversificado. Tem que dar valor a todas as etnias, a todas as raças e não só à raça negra. Já sofri preconceito e tudo mais. E acho que tem que mudar a cabeça dos jovens de hoje em dia para no futuro não acontecer mais isso"
Por Conceição Freitas / Correio Braziliense
O único acervo online no Brasil, dedicado aos gêmeos adultos e familiares, criado em março de 2010 com o propósito de reunir todos os tipos de histórias de gêmeos (adotados, sobreviventes, univitelinos, bivitelinos, siameses etc). O principal objetivo é encontrar gêmeos desaparecidos. Você é gêmeo (a) ou tem gêmeos na família? Envie sua história por e-mail: vizinhosdeutero@gmail.com
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