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quinta-feira, maio 19, 2011

Renata Teixeira

“Minha vida é um desarranjo completo, um desastre. Sempre me senti muito, muito sozinha e nada, nem mesmo os namorados mais bacanas que tive, conseguiram fazer essa sensação de abandono sumir. Eu sou um ser abandonado e sei que nunca vai ser diferente. Nunca tive medo da morte e a enxergo como sendo um alívio, um livramento de todos os problemas dessa vida chata, que eu nunca pedi pra viver e nunca desejei viver. Na verdade eu queria tanto que a morte não fosse algo doloroso e demorado.

O primeiro filho da minha mãe, Ézio, nasceu em 1976. Em 1977 nascemos eu e meu irmão gêmeo. Porém, ele viveu apenas oito dias, faleceu por problemas respiratórios. Como é morrer sem poder respirar? Ele deve ter sofrido muito e eu não pude fazer nada pra ajudá-lo.

Dois anos depois minha mãe teve outra gravidez e a bebezinha passou da hora de nascer. Morávamos no interior do estado de Minas Gerais e era carnaval. O médico estava muito ocupado na folia. Nunca tinha pensado nisso antes, mas me veio agora que talvez seja por isso que eu odeio carnaval.

Crescemos em uma fazenda onde meu pai trabalhava como lavrador e quando ele perdia o emprego, tínhamos de mudar para outra. Nunca nos faltou nada, pois na roça tem-se de tudo: frutas e verduras, rio pra nadar, animais para brincar, árvores pra subir, campos para correr. E o melhor, na roça todos são iguais, ninguém te despreza por você não ter um tênis de grife da última coleção.

Quando eu tinha 13 anos e meu irmão 14 nossa família se mudou para uma cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. No nosso primeiro dia de aula os outros adolescentes riam de nós dois, pois não usávamos jeans, tênis e camiseta do colégio. Usávamos sapatos, calça e camisa de tergal que era o nosso antigo uniforme da escola da roça. Viver naquele lugar foi horrível. Meus pais ainda moram lá e meu irmão está enterrado no cemitério de lá.

O Ézio faleceu em 27 de julho de 2004 de parada cardíaca, em função das várias tentativas de suicídio. Nunca tive a coragem dele de ir até o fim em algo que se quer. Sempre fui acomodada e sempre desviei minha atenção para o trabalho para não ter que me enfrentar e enfrentar a minha infelicidade e solidão.

Nunca tive uma ‘melhor amiga’ ou ‘um melhor amigo pra sempre’ e já desisti de acreditar que os terei. Acho que só meus irmãos seriam meus melhores amigos pra sempre. Agradeço a Deus por ter amigas e amigos fantásticos a quem amo muito, mas não consigo entender porque Ele faz isso, leva metade de um ser e deixa a outra metade sozinha para sofrer. Não sei por que Deus levou meus irmãos e me deixou para sofrer sozinha nesse mundo mal e horrível” Renata.

Rio de Janeiro / RJ

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