Translator Widget by Dicas Blogger

Quer anunciar aqui? Entre em contato: vizinhosdeutero@gmail.com

terça-feira, novembro 22, 2011

Aline Diegues

(Aline e ‘Mariana’ aos 4 anos, com os primos Danilo Souza e Gabriela Américo. Foto adaptada por Diogo Baptista)

"Cheguei a pensar que minha solidão, meus sentimentos de tristeza e meu vazio eram absolutamente normais. Sempre me senti diferente e sozinha. Nunca quis comentar com ninguém, porque já fui totalmente incompreendida. As pessoas sempre me diziam que isso era coisa da 'minha cabeça'. Somos gêmeas. Digo 'somos' porque acredito que minha irmã Mariana está perto de mim. Somos univitelinas nascidas aos 7 meses de gestação, no dia 28 de novembro de 1986. Às 09:30 hs nasceu Mariana mas somente com parte do cérebro.

Minha mãe (Mariete) não sabia que esperava gêmeas e, portanto, nossa família esperava apenas um bebê. No ultrassom ouviam somente o meu coração. O coração dela estava fraco demais para se ouvir. Três minutos depois, eu nasci pesando 600 gramas. Por ser prematura e por conta do baixo peso, minhas chances de sobreviver eram mínimas. Fiquei na incubadora durante três longos meses para conseguir ganhar 1 quilo. Meu peso oscilava e cada grama conquistada era uma vitória.

Certa vez eu li um estudo sobre a síndrome do irmão desaparecido - que dizia que sentimentos de morte em alguns casos se tornam fortes. A morte está presente em minha vida, assim como, o amor pela minha irmã. Amava tanto a morte que comecei a me vestir de preto e a andar em cemitérios. Solidão e melancolia me fizeram entrar naquele mundo. Um mundo que eu amo. De certa forma me dá a sensação de estar mais perto dela.

Fico feliz em poder expressar o que sinto aqui, sem correr o risco de ser mal interpretada ou julgada. É muito bom saber que meus sentimentos não são coincidências. Eles são legítimos e muito comuns entre os gêmeos sobreviventes. Só quem é gêmeo é capaz de compreender. Preciso dizer que amo a morte, mas não quero morrer. Fui forte, guerreira e sobrevivi. Acredito que, desejar morrer ofende a memória da minha irmã. Lutei muito pela vida e hoje estou aqui para compartilhar minha história com vocês.

Claro que, se pudesse escolher, mesmo que por um segundo, trocaria de lugar com ela. Preferiria que ela estivesse viva. Minha família não viveu o luto, a vinda da minha irmã foi apenas um 'detalhe'. Uma vez perguntei à minha mãe se ela sentia falta da Mariana. Ela respondeu que pra ela, a minha irmã nunca existiu, já que ela estava grávida de apenas uma menina que sobreviveu. A “indiferença” da minha mãe - perante a morte de minha irmã me indigna. Minha perda é do tamanho da indiferença que ela demonstra. Carrego essa dor sozinha todos os dias.

Não sei em qual túmulo seus ossos estão, mas vou visita-la no cemitério em que ela foi enterrada, no dia do nosso aniversário. Serei sua primeira e única visita. Completaremos 25 anos no próximo dia 28. E nesse dia quero de alguma maneira, estar perto dela. Todo aniversário me visto de preto. Não é um dia feliz para mim, é um dia de luto, o dia em que perdi a coisa mais importante da minha vida. Às vezes sonho com ela. Sinto que ela está e sempre estará comigo"
Aline Diegues

São Paulo / SP

Um comentário:

  1. Admirável passar por tudo isso sozinha...
    Uma Linda História, me comoveu!

    ResponderExcluir