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terça-feira, outubro 30, 2012

"A ligação entre irmãos gêmeos" Por Laila Magesk

(Claudiene com as filhas Sophia e Jamylle)

Mães contam a experiência de gerar e criar filhos que não têm só um rosto parecido. A ligação entre irmãos gêmeos vai além da semelhança física.

As gêmeas Sophia e Jamylle de Paula de Jesus passaram meses dividindo o útero da mãe (Claudiene Maria de Jesus), se acostumaram com a presença uma da outra, sempre ali, lado a lado. No nascimento, o baixo peso de Sophia fez com que ela se separasse de Jamylle, que logo foi embora para casa. Com o passar dos dias, os choros das duas fizeram a mãe perceber que algo estava errado: era a saudade.

A médica liberou o reencontro das irmãs na UTI Neonatal. E juntas, no mesmo berço, encantaram a todos que estavam no lugar quando, em silêncio, uma tocava o rosto da outra, mostrando a forte ligação entre irmãos gêmeos. "Foi uma sensação muito linda. Todas as enfermeiras apareceram na hora e ficaram olhando. Foi muito legal o contato das duas que já estavam um tempo sem se ver. Elas ficaram calmas na hora", conta a mãe. A história de Claudiene me fez lembrar do artigo intitulado "O Abraço Mágicopublicado na revista News Week.

A psicóloga Elizabeth Tavares, de Londrina (Paraná), autora do livro "Conversando sobre Gêmeos", estuda a relação entre irmãos gêmeos há mais de 20 anos. Para ela, a ligação entre eles certamente é muito grande, desde o início da vida. “Existem muitos relatos semelhantes aos dessa mãe, entretanto há poucas pesquisas sobre as relações fraternais gemelares nos primeiros dias/semanas de vida que expliquem, de fato, esse fenômeno”, afirma.

Dentre outras hipóteses, segundo a psicóloga, a vivência de proximidade física, inclusive intra útero, deve contribuir para que os gêmeos se sintam melhor próximos entre si. "Além disso, é possível que existam outros aspectos da interação primitiva entre os gêmeos que ainda não foram decifrados pela psicologia nem pela medicina", acredita.

Para o psicólogo Adriano Pereira, professor do curso de Psicologia da Unesc, tudo que acontece na vida intrauterina marca de forma muito intuitiva uma série de sensações e até a memória que a criança leva mais para frente. "Por exemplo, sabe-se que quando a mãe canta durante o período gestacional, o bebê após o nascimento faz o reconhecimento dessas músicas, mudando o batimento cardíaco quando escuta aquela canção".

De acordo com o psicólogo, existe algum tipo de vínculo que faz um registro de memória muito intuitivo no feto e mais tarde quando nasce, ele faz o reconhecimento do que viveu antes. "É muito possível que essa criança gêmea tenha se acostumado com o cheiro da irmã, alguns sons. Quando elas são colocadas juntas novamente há o reconhecimento, a familiaridade, que traz calma e tranquilidade".

(Fátima Steinkopf tem seis filhos, dos quais 4 são gêmeos)

Se conceber o primeiro filho nos dias de hoje é uma decisão muito pensada e discutida pelos pais, imagine para quem já tem três, incluindo gêmeas. No 5º mês da terceira gestação, Fátima Steinkopf descobriu que esperava dois bebês. "Fiquei grávida e o médico disse que era um feto único. Quando estava no quinto mês, fui fazer outro ultrassom e o médico perguntou se o primeiro não tinha falado nada. Ele disse: 'não sei se você está nervosa ou calma, mas tem dois bebês aqui dentro'". Naquele dia, o mundo de Fátima caiu.

"Eu comecei a chorar desesperadamente. Eu não acreditava que eram dois. Meu marido ficou parado sem saber o que fazer. Eu já tinha três filhos. Como Maria Eduarda era menor, ela estava atrás da irmã nos primeiros ultrassons. E não tinha como vê-la". A dona de casa estava no segundo casamento quando decidiu ter o quarto filho. E ela não parou por aí. Já com cinco herdeiros, teve mais um.

E, depois que os filhos nascem, começa a criação deles, o que dá muitas alegrias e também trabalho. Em relação aos gêmeos, primeiro nasceram Lara e Laís, que hoje têm 16 anos. De tão idênticas, a mãe demorou saber quem era quem. "Eu tinha medo de não saber quem era uma e quem era a outra. Demorei cinco meses para conseguir diferenciá-las. Nessa época, o cabelo delas começou a clarear, mas até o peso era quase igual. Nasceram com 10 gramas de diferença".

Principalmente no caso de gêmeos idênticos, é essencial que os pais busquem formas para identificá-los desde o nascimento. A psicóloga Elizabeth Tavares afirma que se necessário os pais podem usar artifícios, como pulseiras, brincos, até mesmo roupas de cores específicas para cada um.

"Digo isso porque são comuns as situações onde um dos bebês deixa de ser alimentado, recebe duas vezes a mesma dose de medicamento. Chegando a correr risco de super dosagem de medicamento e/ou falta ou excesso de cuidados em detrimento do outro gêmeo, pelo fato de não serem identificados de forma adequada", alerta.

Fátima já passou por uma situação parecida com as filhas. "Estava fazendo uma mamadeira quando uma chorava e a outra dormia. Olhei para minha mãe e disse: 'será que eu dei duas mamadeiras para uma só?' Fiz a mamadeira e dei para a que estava chorando, a menina chegou a dormir. A partir dessa situação, eu decidi deixar as pulseiras de identificação nelas".

Saber que existe alguém igual a você não agrada as gêmeas Lara e Laís. "Eu odeio ser confundida com ela. Eu fiz uma mudança no cabelo para ficar mais diferente", conta Laís. Mas a mudança não surgiu muito efeito. "Ninguém acerta o meu nome. Chamam a gente de Larais. Só minha vizinha que conhece a gente. Fora ela, ninguém mais", diz Lara. Mesmo brigando, uma não larga a outra e admitem que a ligação entre elas é maior do que com os outros irmãos. Essa forte relação é comprovada pela psicóloga.

"Pelo que verifiquei em mais de 20 anos, tenho certeza de que a ligação entre irmãos gêmeos é maior do que em irmãos não-gêmeos, sendo por vezes maior até do que a ligação entre a mãe com cada gêmeo", destaca Elizabeth. Ao estudarem gêmeos, psicólogos perceberam que os criados separadamente eram mais parecidos do que os criados juntos. "Isso foi surpreendente, aqueles gêmeos que são criados juntos vão querer se diferenciar em alguma coisa. Um é mais extrovertido, outro mais tímido. Eles vão cada vez mais aumentando essa diferença entre eles. Nós temos o instinto de individualização. A gente quer ser visto como indivíduos singulares", explica o psicólogo.
Por Laila Magesk / Gazeta Online

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