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sexta-feira, dezembro 14, 2012

"Adoção" Por Juliana Falcão

(Ricardo Fischer e família)

Meu filho quer conhecer a mãe biológica, e agora?

Para muitos pais adotivos ver o filho do coração movendo céus e terras em busca dos pais biológicos parece ser algo doloroso. Mas para quem foi adotado esta é uma forma de descobrir de onde veio, de por um ponto final em certos estereótipos e de preencher uma enorme lacuna.

Ricardo Fischer de Porto Alegre (RS), foi adotado aos 2 anos de idade e por volta dos 6 anos começou a perceber que algo não se encaixava direito em sua vida. "Eu era diferente dos meus irmãos. Além disso, fui adotado nos anos 60, época em que havia muito preconceito, e as pessoas não me olhavam ou me tratavam da mesma maneira que meus irmãos", lembra.

Sedento por explicações, Ricardo começou a questionar a mãe sobre o assunto, mas ela sempre procurava não esclarecer o assunto, dizia que ele era muito novo para entender. Até que, aos 12 anos, durante uma briga, uma terceira pessoa disse que ele não era da família, que era adotado. Foi a confirmação que Ricardo precisava. "Geralmente os filhos adotivos descobrem a verdade por meio de brigas em família ou disputas por herança", comenta.

Mesmo após saber a verdade, a mãe adotiva não quis tocar no assunto, contar toda a história. Até que entre 15 e 16 anos, Ricardo aproveitou que estava sozinho em casa, foi até o quarto da mãe, mexeu numa caixa de documentos e achou os papéis da sua adoção. Lá tinha a data em que ele havia deixado o abrigo, o nome da sua mãe biológica e outras informações que precisava para iniciar sua busca.

"Fiquei de castigo por ter mexido nas coisas dela, mas depois de muita insistência minha mãe me contou tudo. Depois ficou desesperada, achando que eu iria embora, mas expliquei para ela não queria buscar uma família, mas sim uma origem, saber de onde eu tinha vindo. Só quem passa por isso sabe dessa necessidade", afirma.

Na época em que Ricardo iniciou sua busca não tinha internet e foi preciso recorrer ao juizado e à Polícia Civil. Mas, como era menor de idade, teve que convencer a mãe adotiva a lhe ajudar. "Ela se revoltou no começo, mas fui mostrando para ela que precisava da informação para completar minha história e ela acabou passando para o meu lado."

É difícil de acreditar, mas até os sete anos de idade Ricardo morou com a família adotiva em frente ao prédio onde viviam a avó e a mãe biológicas. Talvez até tenha cruzado com uma delas. Até um detetive o rapaz chegou a contratar para lhe ajudar, mas sem sucesso. Depois de muita persistência, Ricardo achou um tio que lhe deu as informações para localizar sua mãe biológica. "Esse tio também havia me dito que eu tinha um irmão gêmeo, que procuro até hoje", conta.

O encontro de Ricardo com a mãe, que também morava em Porto Alegre, foi emocionante, marcado por uma longa conversa recheada de explicações. "Minha mãe biológica contou que havia sido vítima de preconceito familiar. Ela era de família de classe média alta, era solteira, ficou grávida e meu avô a botou para fora de casa. Chegou a ficar um tempo com a gente, mas quando não conseguiu mais nos sustentar nos levou para uma instituição", conta. "Hoje conheço meus pais, avós e tios biológicos. Vejo-os como amigos, pois não há vínculo afetivo."

Ricardo conta que sua vida mudou muito após esse encontro, principalmente porque seus pré-conceitos caíram por terra. "O ser humano fantasia muito as coisas. Por que sou adotado? Por que não me quiseram? Eu não valia nada? A adoção hoje é tratada como uma mentira. A gente, sem saber a verdadeira história, acaba se culpando por ter sido adotado. Por isso é importante a família adotiva contar a verdade, para que o filho não se sinta enganado".

Ricardo conta que 90% das mães evitam contar a verdade com medo de perder o filho que adotou. Mas ele reforça que a procura pela mãe biológica não vai gerar vínculo afetivo, é uma necessidade que a pessoa tem de saber de onde veio. "O filho adotivo tem direito de saber quem ele é."

E é importante lembrar que o medo do que e de quem vai encontrar não é só dos pais. Os filhos, ansiosos por encontrar a mulher que os gerou, acabam idealizando o físico e o psicológico da mãe biológica. Mas eles precisam estar preparados para encontrar o melhor ou o pior do outro lado.

O criador da ONG Filhos Adotivos do Brasil, ressalta ainda que essa necessidade de conhecer a família biológica também é medica. "Quando você vai a uma consulta o especialista pergunta se alguém da família tem alguma doença. Eu fiquei diabético e descobri que meu avô e minha mãe são. É um tipo de diabetes hereditária. Se eu não soubesse da minha história verdadeira essa informação se perderia", diz.

Para preparar pais e filhos adotivos para esse momento que, segundo Ricardo, é inevitável, a ONG possui um curso que instrui as mães para a adoção, de forma que elas entendam a importância de falar a verdade para o filho adotivo e deixá-lo procurar por quem o gerou.

"Geralmente o filho adotivo tem a noção real da adoção na adolescência. Aí começa a vontade de procurar as origens. O problema é que os pais adotivos não sabem lidar com esse momento e acham que o filho é ingrato. Mas não é assim. A verdade precisa ser contada", defende do criador da ONG.

A preocupação de Ricardo em preparar os pais adotivos para esse processo está no fato de que muita gente não tem noção do que é adotar. "Levar uma criança para casa não é como adotar um gatinho ou um cãozinho A criança vai chegar com uma bagagem de rejeição e de abandono muito grande. E quando a relação não é como os pais pensavam, eles chegam a devolver a criança, gerando uma rejeição ainda maior." afirma.

Mesmo com a mudança na Lei Nacional da Adoção (nº 12.010/2009), que incluiu no Estatuto da Criança e do Adolescente o direito à revelação da origem biológica, o governo não tem facilitado o acesso a essas informações. "Muitas vezes os órgãos responsáveis não querem nos ajudar e temos que entrar com processo. A burocracia é maior, mas, felizmente sempre ganhamos, pois agora é lei", comemora Ricardo Fischer. Por Juliana Falcão (MBPress)

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