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quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Hannah recorda a dor da perda de Lucy

(Lucy, à esquerda, com Hannah. Elas eram inseparáveis)

Hannah Fitt recorda a dor da perda da irmã gêmea

“Enquanto eu observava minha irmã idêntica fazer as malas, senti uma mistura de emoções. Era 1998, Lucy estava indo para Uganda (África) para uma temporada como voluntária do “Right Hand Trust”, uma entidade cristã baseada em Welshpool – que dá aos jovens do Reino Unido a oportunidade de viver e trabalhar por oito meses em uma comunidade rural africana.

Eu estava me preparando para ir para a faculdade de arte na Universidade de Glamorgan. Tínhamos 18 anos, íamos ser separadas pela primeira vez. Foi extremamente difícil. Crescemos em Barry (sul do país de Gales) e só mamãe era capaz de nos diferenciar. Na escola, usavamos crachás para os colegas e professores saberem quem era quem.

A família não ficou surpresa quando soube que Lucy passaria uma temporada no exterior. Nós sempre trabalhamos juntas como voluntárias, e ela era muito aventureira – seu apelido era Indy, abreviação de Indiana Jones. Mesmo sabendo que sua ausência seria dolorosa, senti muito orgulho quando me despedindo dela no aeroporto. Lucy foi morar num orfanato numa área rural, cerca de três horas de Kampala, capital de Uganda. Naquela ocasião, mantinhamos contato por cartas e por raros telefonemas.

Lucy estava realizando um sonho, mas não sabia que estava vivendo em perigo. Durante uma visita a Kampala, em Março de 1999, Lucy optou por não participar de um grupo de oito turistas e quatro ugandeses em uma viagem para ver gorilas raros no Bwindi National Park, uma atração popular. Este grupo foi massacrado, aparentemente por rebeldes Rwandan Hutu.

Lucy ficou muito abalada e recebeu a orientação para não sair do hotel. Ela obedeceu a instrução, mas foi arrancada do hotel pelos rebeldes e foi forçada a assistir a morte de um homem de Uganda – assassinado em sua frente. Lucy não falava a língua deles, não sabia o que estava acontecendo. Ela pensou que iria morrer também. Logo depois, ela foi para a Embaixada Britânica e voltou pra casa, traumatizada. Na época, nós não tínhamos a noção de como este fato atingiria Lucy. Depois de um tempo, ela foi diagnosticada com estresse pós-traumático e transtorno obsessivo compulsivo.

Ver minha irmã gêmea passar por este disturbio emocional grave, foi de cortar o coração. Ela fez terapia e demorou dois anos para voltar a ter uma vida normal. Lucy não queria que o que havia acontecido em Uganda, a impedisse de fazer qualquer coisa. Ela continuou como voluntária no Reino Unido e estudou para obter o diploma de religião mundial e desenvolvimento internacional. Ela também voltou a viajar, visitando a Mongólia em uma viagem sozinha.

Também criamos juntas a banda ‘The Amber Hour’ - cantávamos e tocávamos guitarra. Chegamos a participar de vários festivais e shows pelo mundo, mas Lucy, ainda queria fazer algo para ajudar as comunidades atingidas pela pobreza na Àfrica.

Então, em 2006 ela criou a “The Safe Foundation” com o objetivo de levar o desenvolvimento sustentável para pequenas comunidades no mundo. A fundação que foi registrada em 2007 havia quatro diretores executivos, incluindo Lucy e eu, quatro curadores, além de quase 800 voluntários. Lucy trabalhava em tempo integral e em cinco anos, conseguimos levar 10 projetos (de saúde, educação e esporte) para nove países diferentes, incluindo Camboja, Uganda, Serra Leoa, Gana, Índia, Nepal e Reino Unido.

Em julho de 2012, Lucy aceitou entrar num programa financiado pelo governo galês para trabalhar pelos direitos das mulheres no Zâmbia, país africano, onde ficaria por três mêses. Obviamente estávamos preocupados com ela, mas sabíamos que que era isso que ela queria fazer. Mantinhamos contato pelas redes sociais, skype, telefonemas e vários e-mails, onde ela relatava com detalhes tudo que acontecia lá. Ela amava o Zâmbia e queria que todos nós fossemos morar lá. Ela escreveu em seu blog que, 14 anos após o incidente em Uganda, ela finalmente fez as pazes com o mundo. Eu estava tão feliz por ela!

Em 20 agosto de 2012 nossa avó materna faleceu aos 92 anos. Eu estava na Índia com um grupo de voluntários e Lucy estava na fronteira entre o Zambia e Zimbabwe com seu chefe e esposa. Não pudemos assistir ao funeral da nossa avó. Alguns dias depois, soube que minha irmã gêmea havia falecido. Ela morreu no mesmo dia que a nossa avó, num acidente na estrada. O motorista perdeu o controle da caminhonete quando um pneu estourou e Lucy que estava no bando de trás foi arremessada para fora.

Não tenho como descrever a dor que eu e minha família sentimos. Toda a nossa comunidade lamentou sua perda. Ela deixou uma lacuna pra sempre. Seu corpo foi trazido para casa e dia 06 de setembro de 2012 foi enterrado em Cardiff. Mais de 600 pessoas vieram prestar suas homenagens. Lucy foi uma inspiração para inúmeras pessoas. A experiência que ela viveu em Uganda aos 18 anos, resultou na fundação – um legado definitivo. Minha irmã se foi, mas nós vamos continuar trabalhando para manter vivo o seu principal propósito” Hannah Fitt, 32 anos, vive em Barry, Gales do Sul

Por Emily Januszewski / Friday Magazine

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