
No mês passado, 68 anos depois, ele foi ao Facebook em busca de outra coisa da qual ele ainda se lembra: Jeno, seu irmão gêmeo.
Ambos viveram juntos no campo de concentração, mas foram separados dias antes da libertação dos cativos. Eles nunca mais se viram. Menachem (foto) chamava-se Elias Gottesmann, àquele tempo. Mudou de nome ao ser adotado, e não revela o novo sobrenome. Da mesma maneira, Jeno também pode ser conhecido hoje por outro nome. Pode morar em outro país. Pode não saber que tem um irmão gêmeo.
As informações conhecidas sobre Jeno são, na verdade, limitadas a um código: A7734, registro tatuado no antebraço do garoto durante os tempos de campo de concentração. Com base nessa sequência de números e uma letra, a historiadora Ayana KimRon tem auxiliado Menachem na busca por seu irmão, criando a página do Facebook e pedindo qualquer informação sobre um homem que, em algum lugar do mundo, tenha aquele código tatuado no braço. A parceria entre KimRon e Menachem começou em maio de 2012, quando ela leu um recado deixado em nome dele em um fórum on-line para consultas de genealogia.
"Um dia, vi um relato com quatro frases. Eu nunca tinha ouvido falar em uma história assim", me diz a historiadora por telefone. Ela concordou em encontrar-se com Menachem, que lhe disse que mais ninguém havia respondido ao apelo on-line. "Percebi que, se eu não o ajudasse ninguém o ajudaria". A partir das memórias de Menachem, KimRon descobriu que ele havia nascido na Ucrânia, um dos pontos iniciais da pesquisa. "Ele não acreditou em mim, inicialmente", diz. Em seguida, ela encontrou a família biológica de Menachem.
Enquanto eu escrevia este relato, a página de Facebook criada por KimRon tinha sido recomendada por mais de 23 mil usuários. A historiadora aposta na possibilidade de que, ao rodar o mundo, a foto de Menachem quando criança e a história de seu irmão possam trazer de volta mais informações sobre o menino que tinha o código A7734 tatuado em um braço."A perseguição dividiu famílias. Mas está no sangue judeu procurar por familiares" diz KimRon.
Por Diogo Bercito / Folha de São Paulo
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