Translator Widget by Dicas Blogger

Quer anunciar aqui? Entre em contato: vizinhosdeutero@gmail.com

sexta-feira, julho 05, 2013

Fábio Moon e Gabriel Bá: Os Gêmeos da HQ

(Fábio (à esq.) e Gabriel em seu estúdio, em São Paulo. 
A dupla trabalha até 14 horas por dia)

Cotidiano - Cena da vida de Brás, protagonista da HQ Daytripper. 
É o primeiro roteiro brasileiro a levar o Prêmio Eisner

Como dois irmãos paulistanos venceram o maior prêmio mundial dos quadrinhos.

Aos 14 anos, quando as historinhas em quadrinhos, eram para eles apenas diversão, os gêmeos paulistanos Gabriel Bá e Fábio Moon decidiram que ganhariam a vida com gibis. Gostavam de super-heróis, mas preferiam as histórias do mestre americano Will Eisner (1917-2005), que desenhava a vida de gente normal. Vinte e um anos depois, a dupla conquistou o maior prêmio dos quadrinhos – e chegou à consagração internacional.

Publicado pelo prestigiado selo Vertigo, da DC Comics (um dos gigantes dos quadrinhos, ao lado da Marvel), o romance gráficoDaytripper foi elogiado pela crítica americana, entrou na lista de mais vendidos do jornal The New York Times e obteve o prêmio Eisner, que leva o nome do ídolo de infância dos irmãos. A obra vencedora, composta em inglês, chega ao Brasil nesta semana traduzida.

Daytripper conta do início ao fim a vida de um brasileiro, o escritor de obituários Brás de Oliva Domingos, cujo nome é uma referência ao personagem Brás Cubas, de Machado de Assis. Os gêmeos incluíram na trama diversas referências à cidade de São Paulo, mas a história viaja por outros Estados. Os autores consideram este o seu melhor trabalho: "Foi a história em que conseguimos nos aprofundar mais", diz Bá.

Não é o primeiro Prêmio Eisner que os gêmeos levam para casa. Em 2008, a coletânea 5, que reuniu trabalhos de brasileiros e americanos, levou o prêmio de melhor antologia. No mesmo ano, a série Umbrella academy, desenhada por Bá e escrita por Gerard Way, venceu na categoria de melhor série limitada. A vitória de Daytripper, no entanto, é a mais significativa. É a primeira vez que uma HQ inteiramente criada por um brasileiro ganha o prêmio. Há outros quadrinistas brasileiros atuando nos EUA, mas, em geral, eles apenas desenham.

Nas duas décadas transcorridas entre a decisão de viver de quadrinhos e a publicação de Daytripper, Bá e Moon construíram sua fama graças a um trabalho persistente. Quando decidiram cursar Artes Plásticas (Bá na USP e Moon na Faap), não se afastaram das HQs. Criaram um fanzine, 10 pãezinhos, escrito e desenhado pelos dois e lançado semanalmente. Uma reunião de sete desses quadrinhos, mais tarde, deu origem ao livro O girassol e a lua, até hoje uma das histórias mais populares da dupla.

Depois da faculdade, ambos decidiram se aventurar pelos Estados Unidos e participar da San Diego Comic-Con, a maior feira de quadrinhos e cultura pop do mundo. Levavam as HQs impressas no Brasil na mochila e mostravam seus trabalhos a pessoas que nunca tinham ouvido falar deles. Essas visitas a San Diego se tornaram uma rotina. "Nosso ano se dividia entre antes e depois da Comic-Con. Trabalhávamos com a ideia de mostrar o resultado lá" diz Moon.

O esforço deu certo. Em 1999, os dois desenharam Roland, uma HQ baseada em um romance de cavalaria. Passaram a aparecer em um número cada vez maior de publicações americanas, como a série Autobiographix, lançada em 2003 pela cultuada editora Dark Horse. Em 2006, com De: Tales, levaram sua primeira indicação ao Eisner. Foi nessa época que começaram a ganhar a vida apenas com quadrinhos, deixando de fazer ilustrações e outros trabalhos para complementar a renda.

Para chegar ao sucesso, Gabriel e Fábio Carvalho Araújo, filhos de uma família de classe média, dizem ter sacrificado muito de sua vida pessoal em nome dos quadrinhos. "Se você não coloca o trabalho em primeiro lugar, fica difícil conseguir o que quer", diz Bá. Os dois dizem ter ficado anos sem ir ao cinema, para desespero de suas namoradas. Só depois que se afirmaram no mercado americano conseguiram algumas folgas – pequenas – na rotina de produção. Estão até fazendo planos de casar.

Apesar de terem colocado o Brasil no mapa do mercado internacional dos quadrinhos, Moon e Bá não acreditam que o sucesso tenha facilitado a incursão de outros brasileiros nas editoras americanas. "A Vertigo não vai sair publicando quadrinistas brasileiros só por causa de Daytripper" diz Moon. "A situação não ficou mais fácil nem para nós". Para garantir que continuarão tendo espaço nas editoras americanas, os dois já se dedicam a seus próximos projetos. Agora, com a certeza de que estão no caminho certo. "O Prêmio Eisner foi a prova de que é possível fazer sucesso com quadrinhos diferentes, sem comédias nem super-heróis", diz Fábio Moon. Por André Sollitto / Revista Época

Nenhum comentário:

Postar um comentário