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sexta-feira, março 23, 2012

Prof Dr. Bernardo Beiguelman

Autor de diversos livros e homenageado em 2004 com a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, o *Prof. Dr. Bernardo Beiguelman fala abaixo sobre os estudos com gêmeos e suas contribuições para a genética, além de traçar um histórico da evolução das pesquisas em genética no Brasil.

"Até a década de 50, o ensino e a pesquisa da genética estavam restritos, no Brasil, primordialmente às escolas de Agronomia, alguns centros de pesquisa como o Instituto Agronômico de Campinas e aos departamentos de biologia das antigas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras. Nessas instituições, eram praticamente inexistentes o ensino e a pesquisa em genética humana.

Na segunda metade dessa década, porém, os geneticistas brasileiros, perceberam que a experiência acumulada por aqueles que utilizavam a mosca drosófila como modelo de estudo de polimorfismos genéticos, mecanismos seletivos, efeito do endocruzamento ou em investigação da ligação de locos gênicos podia ser transferida, sem grandes dificuldades, para o estudo desses mesmos problemas na espécie humana.

Essa possibilidade teve o efeito de atrair para a genética humana não apenas estudantes com formação em genética de drosófilas, mas até “drosofilistas” consagrados, o que propiciou a realização de estudos para avaliar a composição genética de populações brasileiras, efeitos seletivos, taxas de mutação, carga genética revelada pela consanguinidade, epidemiologia de defeitos congênitos, entre outros.

Trabalhando nesses temas, as publicações dos geneticistas brasileiros granjearam imediata acolhida internacional e o respeito de seus pares no exterior, atingindo seu apogeu entre as décadas de 60 e 80. Nesse período, de acordo com um critério combinado de qualidade e quantidade de produção científica, a classificação da genética humana brasileira situou-se entre os cinco países que vinham logo após os Estados Unidos e Inglaterra.

Essa temática, entretanto, não sensibilizou o meio médico, nem mesmo quando as pesquisas se referiam as doenças hereditárias, porque os médicos demonstravam dificuldade em aceitar uma ciência biológica que, nessa época, se baseava muito na aplicação da análise estatística para poder interpretar a realidade com alto grau de exatidão.

Aos olhos dos clínicos, preocupados com a problemática individual, os geneticistas abusavam de abstrações e de rotulações aparentemente simplificadoras, que desrespeitavam as variações do quadro clínico dos pacientes. A falta da aceitação no meio médico brasileiro perdurou. A franca aceitação só aconteceu partir da década de 60, quando a citogenética humana começou a ser implantada, mesmo em laboratórios com recursos mínimos - o que permitiu que se desenvolvesse de modo extraordinário no Brasil, já no início dos anos 60, competindo com os países do hemisfério norte.

Mas a aceitação completa da genética nesse meio, só foi ampla quando a importância do aconselhamento genético mostrou-se inquestionável em numerosas especialidades. Entre elas, as pesquisas em genética do desenvolvimento, genética do comportamento, genética das doenças degenerativas e o estudo de gêmeos. Em todas essas especialidades, o Brasil tem se destacado pela alta qualidade e pelo número dos trabalhos que seus pesquisadores publicam nas mais importantes revistas internacionais. Todavia, o Brasil não reverencia seus pesquisadores científicos; você só é reverenciado lá fora" Por Rodrigo Cunha / Revista Com Ciência

*Prof. Dr. Bernardo Beiguelman nasceu em 15 de maio de 1932 em Santos (SP) é Doutor pela Universidade de São Paulo (USP), Livre Docente de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e Professor Titular do Departamento de Genética Médica da Universidade Estadual de Campinas.

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