Translator Widget by Dicas Blogger

Quer anunciar aqui? Entre em contato: vizinhosdeutero@gmail.com

sexta-feira, junho 14, 2013

"Depressão de Mãe" Por Carolina Ambrogini

(Foto Ilustrativa)

Laura sempre desejou ser mãe, por isso não conseguia entender aqueles sentimentos. Seu bebê estava ali, perfeito, dormindo como um anjo. E tudo que ela sentia era culpa. Culpa por não estar pulando de felicidade, mas por estar, triste, chorona e insegura. Sim, ela tinha certeza de ter um amor profundo por ele, mas de que adiantava se não se sentia capaz nem de amamentá-lo? Tudo o que ela queria era dormir, para esquecer aquele enorme fracasso.

O personagem e o nome são fictícios, mas os sintomas de depressão pós-parto são comuns em cerca de 10% a 15% das mães no primeiro ano de vida dos filhos. É importante diferenciar esses casos do blues puerperal, ou seja, melancolia pós-parto. Esse surge em média no terceiro dia pós-nascimento e dura por volta de 15 dias. Acomete de 50% a 70% das mães e acontece por conta dos hormônios que caem abruptamente após o parto, levando a um desequilíbrio de alguns neurotransmissores que regulam o humor. Sem falar das enormes mudanças na rotina da mãe, que sofre pela privação de sono e está aprendendo a amamentar e a conhecer o bebê.

Em um pré-natal benfeito, o obstetra conversa logo com o casal sobre essa fase crítica, alertando que os sentimentos de tristeza, insegurança e a hipersensibilidade emocional da mãe são perfeitamente esperados e compreensíveis nos primeiros dias. Na alta da maternidade, além das orientações do pós-parto, sempre falo para minhas pacientes: não passe o dia inteiro de camisola, tome sol junto com o bebê, saia de casa pelo menos uma vez ao dia, nem que seja para ir à padaria, e descanse o máximo possível. São atitudes simples, que ajudam a prevenir esses sentimentos negativos. Mas, se eles aparecerem, pense que logo irão embora.

Já com a depressão pós-parto é diferente. Os sintomas podem surgir até seis meses após o parto e são mais crônicos e intensos. Muitas mulheres acham que se sentem assim por conta do cansaço acumulado e não procuram ajuda. Nos casos mais graves, até os cuidados básicos com o bebê ficam comprometidos.

Algumas mulheres são mais suscetíveis a esse problema: as que já têm histórico de depressão, as que estiveram deprimidas na gravidez ou tiveram depressão pós-parto em outra gestação, as que não planejaram a maternidade, as mães de gêmeos, as mães solteiras ou com união em crise, as mães de prematuros e as com histórico de problemas graves na gestação. Elas merecem atenção especial não só do obstetra, mas de toda a família. Pesquisas mostram que até os homens podem sofrer de depressão pós-parto, portanto todos na casa devem estar vigilantes.

O diagnóstico e o tratamento, que na maioria dos casos não interfere na amamentação, são fundamentais para não comprometer o vínculo da mãe com o bebê. Ele precisa do olhar seguro da mãe para se desenvolver – é isso que faz a criança se reconhecer importante e amada. É para esse olhar que ela quer crescer e que retribui com suas primeiras risadas. E que mãe não se enche de felicidade com um sorriso de filho? É o maior antidepressivo que existe, acredite!

*Este texto faz parte da Coluna Confissão de Mãe da edição 233 (Abril, 2013) da Revista CRESCER. Carolina Ambrogini é obstetra, sexóloga e mãe. Coordena o Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário